As pessoas com deficiências tradicionalmente
discriminados pela sociedade, e desmotivados pela sua própria condição
existencial, têm nas competições paraolímpicas uma oportunidade para elevar sua
auto-estima, direta ou indiretamente, além de provar para todos o seu valor
como atleta e cidadão.
Desde a XVI Olimpíada, realizada em Roma, em 1960,
imediatamente após as Olimpíadas, e nas mesmas instalações são realizados as Paraolimpíadas ou
os Jogos Paraolímpicos. Em Roma, a I Paraolimpíada teve a participação de
400 atletas e 23 delegações. Neste ano, em Atenas, na Grécia, as Paraolimpíadas
vem crescendo também de prestígio junto à mídia, e proporcionando oportunidades
de competição esportiva para aqueles que, superando as inúmeras dificuldades,
treinaram duramente para o evento internacional. Os jogos de 2004 atraíram 143
países e cerca de 4000 competidores
Atletíssimos
Clodoaldo Francisco da Silva bateu o recordes e
conquistou seis medalhas de ouro na natação. Clodoaldo nasceu em Natal/RN, em
1979. Deficiente físico, em razão de paralisia cerebral.
Roseane Ferreira dos Santos, conhecida como
Rosinha, também é uma colecionadora de primeiros lugares. Ganhou três de ouro
no Mundial da Nova Zelândia em 1999, três medalhas de ouro no Pan-Americano do
México, duas de ouro nas Paraolimpíadas de Sydney em 2000. Em Atenas, alcançou
o recorde mundial no lançamento do disco, mas não obteve medalha devido ao sistema
de pontuação realizado no agrupamento de classes desta prova.
Contudo, a maior glória das olimpíadas dos
deficientes não está somente na conquista de medalhas e na própria competição,
está sobretudo no exemplo que esses atletas passam para centenas de milhares
que vivem estigmatizados por suas deficiências físicas e mentais e sem
perspectivas em suas casas. Mesmo quem não aspira ser atleta, pelo menos pode
encontrar inspiração e coragem em acompanhar as notícias, onde termina se
identificando com aqueles que superaram as inúmeras dificuldades com muita
luta, coragem, persistência e dedicação por algum esporte. Saber que há pessoas
que apesar das dificuldades de toda ordem foram à luta e venceram no esporte,
pode irradiar otimismo, levantar a auto-estima e reorientar as perspectivas em
muita gente.
Cada atleta uma história
Se cada um dos atletas das olimpíadas tem sua
história específica de sofrimentos e superação dos seus próprios limites, cada
atleta paraolímpico carrega uma história de fazer filme para cinema. Existem
aqueles que nasceram com deficiência e aqueles que adquiriram uma deficiência
ao longo da vida. Há atletas com lesão medular, poliomielite, amputação de
pernas e de braços, deficiência visual e mental.
Os atletas com deficiência física são classificados
em cada modalidade esportiva através do sistema de classificação funcional.
Este sistema visa classificar os atletas com diferentes deficiências físicas em
um mesmo perfil funcional para a competição. Tem como meta garantir que a
conquista de uma medalha por um atleta seja fruto de seu treinamento,
experiência, motivação e não devido a vantagens obtidas pelo tipo ou nível de
sua deficiência. Na natação, são 10 classes para o nado de costas, livre e
golfinho, 10 classes para o medley e 9 classes para o peito. Os atletas com
deficiência visual, já passam por uma classificação médica, baseada em sua
capacidade visual. Entre os atletas com deficiência visual, há somente 3
classes. Apesar destas classificações serem aceitas pelo Comitê Paraolímpico
Internacional – IPC, existe muita polêmica em relação a estes sistemas e muitos
atletas são protestados durante as competições.
Somente o bocha, o goalball, o rugby e o
halterofilismo são modalidades que foram criadas especificamente para a
participação dos deficientes. De maneira geral as adaptações das modalidades
convencionais para a participação dos atletas com deficiência são mínimas. Como
é o caso das corridas com deficientes visuais, nas classes T11 e T12 onde são
permitidos guias.
A divulgação dos Jogos Paraolímpicos fez com que
ficássemos admirados, ou mesmo perplexos com a performance de atletas em
cadeira de rodas, no atletismo, no basquetebol, de atletas cegos seguindo uma
bola com guizo no futebol e de atletas sem braços e pernas competindo na
natação. Estas imagens, agora, devem ficar registradas para repensarmos sobre
nossas opiniões, conceitos e ações em relação a estas pessoas que estão com
certeza muito próximas de nós, mas que só adquirem visibilidade social nesse
tipo de competição. De acordo com os dados do CENSO 2000, o Brasil tem cerca de
14,5% pessoas com deficiência, portanto, são demandantes de projetos de
inclusão social.
Paraolimpíada só, não basta...
Todos reconhecem que à dimensão psíquica, física e
social do esporte paraolímpico é muito significativa para os atletas, mas
também contribui para a construção de um mundo verdadeiramente pluralista, que
sabe respeitar e conviver com as diferenças, sejam elas quais forem.
As pessoas com deficiências física e mental não
precisam de nossa pena, ou de nossa compaixão, mas sim de estímulo,
demonstração de apoio e de luta conjunta pela democratização das oportunidades
de acesso para além do âmbito dos jogos, para que tenham uma existência
cotidiana digna e feliz
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