Com direção geral de José Possi Neto e direção musical de Miguel
Briamonte, o espetáculo tem texto de Walter Daguerre, com quem o RIO
ENCENA conversou. No palco, os atores Ruy Brissac (Dinho), Adriano Tunes
(Julio), Yudi Tamashiro (Bento), Elcio Bonazzi (Samuel) e Arthur
Ienzura (Sergio) - bem semelhantes fisicamente aos originais - ganham a
companhia de um coro para contar, através de canções e coreografias
boladas por Vanessa Guillen, a história do grupo. Dos 90 minutos de
peça, a maior parte é dedicada ao período pré-fama, quando a formação
ainda se chamava Utopia. O sucesso, com a venda de mais de 3 milhões de
cópias do primeiro e único álbum, também é relatado. No entanto, por
questão de bom senso, e também por um pedido das famílias, o capítulo
trágico do acidente, que vitimou toda a banda fatalmente em 02 de março
de 1996, ficou de fora.
Eles eram pessoas muito alegres, animadas. Então a gente quis mais
falar disso, dessa contribuição para o Brasil que foi a alegria que eles
trouxeram", explica Daguerre, de 41 anos, que admitiu ter virado fã do
grupo depois de uma torcida de nariz inicial.
Essa admiração pelos Mamonas, aliás, deve ter ajudado a inspirar
Daguerre no desafio de escrever o primeiro musical de sua carreira. Com
20 textos no currículo - além de cinco trabalhos como ator e outros
cinco como diretor - ele já havia escrito "Jim" (2013), sobre o músico
Jim Morrison (1943-1971), a biografia sobre o divertido grupo musical
brasileiro é seu primeiro musical de fato.
Ainda sobre "O Musical Mamonas", ao chegar ao Rio, a montagem estará
vindo de uma temporada de sucesso em São Paulo, estado onde o quinteto
nasceu (eles eram de Guarulhos). Entretanto, como espera o dramaturgo, a
recepção por aqui deverá ser na mesma proporção ou até superior. Tal
expectativa se justifica, afinal, essa será uma bela oportunidade para
relembrar aqueles que divertiram os cariocas por tantas vezes.
Como foi o processo de criação do texto? Que tipos de pesquisas e entrevistas você realizou?
A ideia original foi dos produtores Rose Dalney, Márcio Sam e Túlio
Rivadávia. Eles são os donos do projeto, que tiveram a ideia, negociaram
com a família. Eles me convidaram para fazer o texto, e eu fiz algumas
pesquisas. Existe uma biografia do Eduardo Bueno, um historiador, tem
também um documentário sobre os Mamonas, além de muito material na
internet, com vídeos e apresentações em programas de TV. E eu também
falei com algumas pessoas das famílias, principalmente a Paula, irmã do
Julio, e o pai do Dinho. Estive lá em Guarulhos. Então foram essas
minhas principais fontes.
A peça fala muito sobre o período antes da fama. A ideia foi mostrar uma fase que nem todos conhecem?
A primeira ideia que me ocorreu foi que não poderia fazer um musical
sobre os Mamonas que não fosse do jeito deles. Então pensei: como seria
se eles próprios escrevessem? Esse foi meu ponto de partida. Queria que
tivesse a cara e a linguagem deles. Então ficou assim, eles contando a
própria história deles, com toda a irreverência e o deboche típicos.
Usamos o mesmo tipo de humor. E também percebi que o período de sucesso
como Mamonas durou só sete meses, na verdade. E nesse período eles
fizeram muitos shows, muita participação em programa, enfim, muitos
compromissos no showbiz. Mas também tiveram um período grande batalhando
como músicos, jovens de periferia. Era um perrengue. O Dinho tinha até
um carro pequeno, mas os outros andavam de ônibus. Eles tocavam em
churrasco, em quermesse, ainda como a banda Utopia. Foi aquela típica
ralação de artista em início de carreira.
E o acidente, o falecimento deles, é retratado na peça?
Se eu falar muito, vai acabar se tornando um spoiler para quem não
viu. Mas a gente, de certa forma até por um pedido da família, não falou
disso. O acidente foi muito explorado midiaticamente na época, e todo
ano tem aquelas reportagens. E eles eram pessoas muito alegres,
animadas, então a gente quis mais falar disso, dessa contribuição para o
Brasil que foi a alegria que eles trouxeram. Explorar o acidente como
um golpe baixo não era nossa ideia.
Você participou da seleção do elenco?
Acompanhei a audição, que foi uma coisa muito bacana. Foi minha
primeira experiência assim, porque também é meu primeiro musical com
estrutura de musical. Escrevi "Jim" (2013), com o Eriberto Leão, mas aí
era um espetáculo só com dois atores. Mas essa é minha grande e primeira
experiência com esse tipo de estrutura, com coro e tudo.
E em relação ao público? Os jovens de hoje com certeza já ouviram
falar, mas não viveram aquela febre dos Mamonas Assassinas. Em São
Paulo, como foi a frequência do público? Mais adultos, pessoal na faixa
dos 30, que na época eram pré-adolescentes?
Mamonas têm até hoje essa característica de atingir a todos. Quando
surgiram, fizeram sucesso com crianças. No programa da peça (folheto
disponibilizado no teatro com informações do espetáculo), eu escrevi
isso: a primeira vez que ouvi Mamonas foi numa festa infantil, foi o
"Vira-Vira". Fiquei chocado! Uma música falando de suruba em festa de
criança? Mas as próprias crianças estavam lá dançando. E logo depois,
assim como todo mundo, eu já estava me rendendo ao humor, à inocência do
humor deles. Mais de 20 anos depois do falecimento, eles ainda são
sucesso. Vão ao espetáculo, os adolescentes, os adultos mais velhos.
Muita gente que não tinha nascido ainda quando os Mamonas morreram, um
pessoal com 20 anos ou menos. Os Mamonas têm essa qualidade até hoje de
fazer sucesso para todo tipo de público. Não sei dizer estatisticamente,
mas grande parte da lotação era de gente que não viu a banda.
E qual é a expectativa para a temporada no RJ?
Eles eram de São Paulo. Mas acho que no Rio de Janeiro foi onde eles
bombaram primeiro. Foi onde chegaram ao topo das paradas primeiro. E o
Rio sempre foi muito receptivo pra eles. É uma incógnita ainda, mas acho
que vai, no mínimo, fazer tanto sucesso quanto foi em São Paulo.
Para encerrar, qual era a sua relação com os Mamonas na época? Era muito fã?
Naquela época, eu estava estudando para ser ator, não escrevia ainda.
Mas meu irmão, por exemplo, tinha uma banda. Eu também cheguei a ter. E
quando eles surgiram, uma coisa era quase certa para todos: primeiro
torcia o nariz, mas depois acabava fisgado. Não tinha jeito. As músicas
eram engraçadíssimas, o humor era inteligente, a forma como eles
sacaneavam tudo. Então foi assim: primeiro torci o nariz, depois me
rendi ao humor deles. E ouvia muito, porque eles estavam sempre no
rádio, em programas de TV, no Faustão, no Gugu. Estavam em todas.
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